Nota de repúdio

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Nota de repúdio da diretoria do IESP-UERJ às declarações recentes do Presidente da República e do Ministro da Educação a respeito das Ciências Sociais e Humanidades

Vimos a público manifestar nossa profunda preocupação com as declarações recentes do Presidente Jair Bolsonaro e do Ministro da Educação Abraham Weintraub. Elas se somam a declarações anteriores que tinham o mesmo sentido de desvalorizar a produção em Ciências Sociais e sua utilidade social. Ao nosso ver, tal posicionamento parte de uma compreensão altamente distorcida do funcionamento da universidade, das áreas do conhecimento científico e das Ciências Sociais em particular.

O trabalho de ensino e pesquisa da universidade não pode ser submetido ao imperativo de “gerar retorno imediato ao contribuinte”, como pregam os mandatários, pois isso representaria a perda da capacidade dessa instituição de cumprir seu papel social. Tanto o ensino quanto a pesquisa são atividades laboriosas que requerem tempo longo de maturação. O Estado brasileiro já tem em funcionamento por meio da CAPES um complexo e rigoroso sistema de avaliação das atividades de ensino e pesquisa, sensível às especificidades de cada área do conhecimento. Cobrar da universidade retorno imediato é, na prática, sufocar a produção científica brasileira, que tanto progrediu nos últimos anos, e rebaixar a formação a padrões de ensino que produzem repetidores de procedimentos e não inovadores.

As áreas de conhecimento têm objetos e vocações diferentes e modos diversos de trabalhar. A universidade leva esse nome porque tem como fulcro a ideia de a diversidade epistêmica em seu interior contribui para a melhor formação de profissionais e de cidadãos. Tal concepção abrangente mostrou-se extremamente bem-sucedida no Brasil e nos países com os sistemas universitários mais desenvolvidos do mundo.

Por fim, é imperativo debelar a ideia de que as Ciências Sociais não tem utilidade social. Nossa contribuição para o estudo de políticas públicas é fundamental para o bom funcionamento do Estado e, por conseguinte, da sociedade. Estudamos desde seus aspectos normativos até seus processos de implementação e avaliação. Na verdade, muitas políticas públicas foram criadas porque as questões que tratam surgiram primeiramente como temas de estudo das Ciências Sociais.

O IESP é uma das instituições fundadoras da pós-graduação em Ciências Sociais no Brasil. Nosso instituto sempre pautou sua atuação no ensino e pesquisa por critérios de excelência científica e relevância pública. Essa é a nossa marca histórica. De uma coisa temos certeza, o descuido com as políticas de educação superior e a desvalorização de áreas fundamentais para o processo de aperfeiçoamento das políticas públicas atentam contra o bom funcionamento de nossa sociedade e a autonomia política do nosso país.

Esperamos de nossos dirigentes, sejam lá suas preferências ideológicas ou partidárias, um mínimo de responsabilidade perante instituições que foram construídas com o esforço de gerações de brasileiros.

Diretoria do IESP

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