É com profundo pesar que lamentamos o falecimento do Prof. Charles Pessanha, editor emérito da Revista DADOS, periódico editado pelo IESP-UERJ. Doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e mestre por nosso programa de pós-graduação, ainda no antigo Iuperj, Charles foi um estudioso das relações entre instituições de controle na democracia e uma peça-chave para a modernização da editoração científica brasileira e latino-americana.
Militante político e presidente do Diretório Central Estudantil da Universidade Federal Fluminense (UFF) na década de 1960, foi intensamente perseguido e preso mais de uma vez pela ditadura civil-militar. Nos anos 1970, encontrou no Iuperj um refúgio acadêmico, tornando-se editor-chefe da DADOS em 1976 e desempenhando a função por mais de 30 anos antes de se tornar seu editor-emérito.
Nesse ínterim, Charles revolucionou a editoração científica, trazendo para as ciências humanas brasileiras a prática de avaliação sistemática por pares e conferindo ao periódico maior regularidade e consistência. Para além disso, foi um formulador e construtor de instituições, ajudando a idealizar a Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC) em 1985 – tornando-se seu diretor entre 1993 e 1995 – e a plataforma de artigos científicos Scientific Electronic Library Online (SciELO), criada em 1997 e pioneira na promoção do acesso aberto ao conhecimento acadêmico. O professor foi membro do comitê científico da Rede Scielo entre 2001 e 2006 e entre 2010 e 2012 e, em setembro de 2023, abriu a Conferência Internacional SciELO 25 Anos. Ajudou também a multiplicar os periódicos acadêmicos nas ciências humanas, criando a Revista Brasileira de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais (BIB), hoje editada pela Associação Nacional de Pós-Graduação em Ciências Sociais (ANPOCS), instituição que lhe concedeu o prêmio de Excelência Acadêmica Gildo Marçal Brandão em Ciência Política.
Em 1997, Charles passou a fazer parte do corpo permanente de docentes do departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro, integrando depois o Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas e Estratégias de Desenvolvimento (PPED). Nesse período, orientou algumas dezenas de dissertações de mestrados e teses de doutorados, sendo reconhecido não apenas pelos seus méritos acadêmicos, mas também pela extrema generosidade com que lidava com seus alunos e pares e sua devoção ao América Futebol Clube do Rio de Janeiro.
Em 2019, Charles concedeu uma entrevista sobre sua trajetória ao Projeto Caminhos: Programa de Memória Oral da Pós-Graduação do IESP-UERJ. Além da companheira de uma vida, Elina Pessanha, ele deixa três filhos, dois netos e uma profunda saudade na comunidade acadêmica que ajudou a construir.